quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Conto - Tudo por nada

Acabara de ser promovido e estava feliz da vida. Era a primeira vez que poderia dar algo de concreto à sua esposa. Viviam numa pindaíba de dar dó. Moravam em uma casa alugada de apenas dois cômodos. Apesar da dificuldade ele não queria que a esposa colocasse as mãos em qualquer tipo de trabalho. Vivia dizendo que ela era sua rainha e que faria de tudo para que ela não precisasse trabalhar, e a verdade é que sempre fez.

Ele se matava todos os dias. De dia trabalhava em um escritório de contabilidade e à noite fazia bicos como segurança. Saía de casa às 6h da manhã e chegava 1h, religiosamente, todos os dias. Com essa promoção poderia largar o bico de segurança que fazia. Todo esse sacrifício para que sua adorada esposa não tivesse nenhum trabalho. Era um marido exemplar. Dava tudo o que podia e até o que não podia para a esposa. Ainda estava pagando um presente que tinha dado. Era uma rainha para ele.

A verdade é que, mesmo recebendo todos os carinhos que um marido deve receber, ele andava desconfiado. Além de sua mulher estar cada vez mais distante, ele percebeu que ela andava com alguns pertences caros que ele tinha certeza absoluta que não tinha dado. Ela jurava que essas coisas eram provenientes de uma poupança que fazia com a mesada que o marido lhe dava. Diante disso, se acalmou, afinal, era apaixonadíssimo pela esposa.

Hoje era o grande dia. Ia dar a notícia à esposa de que não precisava mais do bico como segurança. Pediu ao patrão um pequeno adiantamento para comprar algo mais que especial para a esposa. Ia poder passar mais tempo com ela e se dedicar mais ainda à sua “rainha”.

Além do presente, comprou umas rosas bonitas e chocolates caros, dos que ela gostava. Chegou de surpresa, bem mansinho. Queria surpreender a esposa já dormindo. Eram 22h30. Ele tirou os sapatos e se ajeitou com os presentes. Quando abriu a porta do quarto seu mundo caiu. Ela estava com outro, naquela mesma cama onde passaram momentos maravilhosos, os melhores de suas vidas. Saiu do quarto, colocou os sapatos. Pegou sua arma (a que ele usava em seus bicos de segurança). Sentou no batente da porta e atirou dentro de sua boca. Ficou ali sentado, sem vida, como se estivesse tomando conta de sua casa.


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Frase do Dia: "O mal do malandro é achar que todo mundo é otário" (Autor desconhecido)

2 comentários:

Anônimo disse...

adorei a frase do dia.

Anônimo disse...

eita.. q texto triste...
mas adorei a frase do dia!!
tudo de bom pra vc...
bjin